29 de setembro de 2003

Angel - Part 7

Doeu. Doeu muito. E ela tinha razão. Quanto falámos pela primeira vez eu tinha-lhe dito que era solteiro. Aliás, no princípio dizia quase sempre.
O mal do mundo cibernético é que é muito fácil mentir. Durante uns dias ainda hesitei sobre se havia ou não de lhe dizer que era casado, mas não consegui evitar. Começava a gostar demasiado dela para lhe esconder isto. Tinha de deixar tudo claro. Estupidez. Ela não precisava de saber. Estava a mais de mil quilómetros de mim e no meio estava o Canal da Mancha e auto-estradas onde se conduz pelo lado errado da faixa de rodagem.
Mas hoje também foi doloroso. Passaram cerca de dois meses em que eu não consegui falar com ela por causa da revelação do meu estado civil e agora que tudo parecia voltar ao normal - pelo menos ela já falava comigo outra vez - estraguei tudo. Resolvi começar a fazer-lhe declarações de amor. Que ela era fantástica e que a Emma era só uma tentativa de a esquecer ou talvez substituir. Que cada vez que eu via o nome dela no ecrã sentia um arrepio na espinha. Que, em suma, a amava.
Ela ainda me interrompeu. Não me faças isto. Pára! Mas eu insisti. Por vezes sou como um boi. Estúpido e teimoso. Ela desligou o computador e eu fiquei a olhar para o ecrã, para uma mensagem cada vez mais familiar. %SYSTEM%: angel has left Chat.
O meu "sweet self" ficou um bocado amargurado. Não sei porque carga de água comecei a bater-lhe coros com tanta violência, sabendo que ela não sabe encaixá-los. Há duas razões, além da estupidez e da precipitação: gosto mesmo muito dela e como já tive a Emma apetecia-me começar já a investir numa novidade. Às vezes não gosto muito de mim.

Sem comentários: