28 de novembro de 2004

Caro Zeca,

Não, não me tornei rabeta! E também não te vou convencer a mudar os teus gosots que estás muito bem assim.
Espantas-me tu duvidares das minhas tendências. Nós que passeávamos de mão dada quando íamos para a cantina universitária, nós que nos acariciávamos ternamente no Piano's depois de almoço, nós que experimentamos essas pequenas amostras do prazer homossexual que nos deixram convictos de que a nossa via era outra.
Espanta-me por isso que penses que eu podia mudar de gostos. Não mudei e quase que posso dizer que desta água não beberei graças a algumas situações recentes que me permitiram ter a certeza de que não gosto de caralhos.
Aqui fica a resposta e a confirmação que, espero, te deixe mais descansado. Com esta conversa perdi a vontade de te falar da puta polaca que faz os melhores broches a Leste do Oder.
Fica prá próxima,

PS - Os beijos entre amigos são uma velha brincadeira entre mim e uns amigos daqui. Um dia, não sei porquê, alguém disse: "beijinhos no sítio do costume", e a moda pegou mesmo entre os homens de barba mais rija. Mas, clarifico, ninguém dá beijinhos a ninguém, apesar de essa moda estar cada vez mais implantada por estas paragens...

Teu Ruca

24 de novembro de 2004

Caro Ruca,

Acho que estás a ficar muito confuso e isso assusta-me! Nunca te tinhas despedido de mim com "um beijo do teu Ruca"! Sinceramente, acho que a tua história da Lituana e da garrafa de uisque está contada de forma atabalhoada e dificil de entender! Penso que isso reflete o teu estado de espirito. Isso leva-me a um raciocínio aterrador: será que as tuas multiplas experiências com mulheres te estarão a provocar cansaço e frustração e por causa disso estarás a equacionar abrir novas perspectivas para a tua vida sexual, encarando a possibilidade de experiências com pessoas do mesmo sexo? Foda-se, para quê estar com rodeios: estás a pensar em virar paneleiro?! Sinceramente, se é esse o caso, digo-te do fundo do coração : não podes contar comigo! Abrenúncio! (vejo agora que nunca escrevi esta palavra. Será assim que se escreve?). Bem sei que já nos abraçamos várias vezes e chegamos a chorar no ombro um do outro, mas que diabo, um homem também pode abraçar um amigo sem que isso nos provoque tusa! Eu sei que tu acreditas que todas as mulheres têm dentro de si uma lésbica, mesmo que não dêm por isso e assusta-me pensar que tu podes achar que cada homem tem no seu interior um maricas pronto a saltar cá para fora!

Por favor sossega-me! Diz-me que estou enganado! Se não for esse o caso, embora eu te possa aceitar tal como tu serás (mas com mais cautela), por favor não tentes convencer-me de que também eu posso seguir esse caminho. Nunca te perdoaria!

Um grande abraço másculo de macho para macho!
Zeca

22 de novembro de 2004

Caro Zeca,

Hoje vou-te contar a história da lituana e da garrafa de uísque.
O Russo é um amigo meu que gosta de lituanas. Gosta de tudo em geral porque tem boa boca, mas se forem de leste gosta mais; e então de lituanas nem se fala. O Russo, dizia eu, tem uma amiga lituana, a quem nós também chamamos litauskas porque os nomes deles lá acabm muitas vezes em auskas e aitas e outras sons sonoros assim. A amiga do Russo tem uma amiga que trabalha comigo. Essa amiga levava com ele todos os dias, mesmo nos de período.
Ora o Russo, que além de gostar de gajas de leste também aprecia o jogo, apostou que eu levava a litauskas em questão para a cama antes do Natal. E a aposta foi com uma das amigas dela e vale uma garrafa de uísque!
Agora estás a ver a minha posição: eu que nem sequer estou muito motivado; eu, que me custa roubar a rapariga de alguém (esqueci-me de dizer que ela tem um namorado recente que se chama Migaitas ou uma merda assim). Por outro lado, não posso deixar um amigo pagar uma garrafa de uísque sem fazer um esforço para que seja ele a ganhá-la. Pior, a coisa não está fácil porque a garina anda em plena lua-de-mel com o tal Gaitas e não me parece que nutra o mesmo olhar tenrinho que fazia quando eu lhe olhava pró entrecoxas...
Conclusão, começo a duvidar seriamente dos meus dotes e não sei que armas utilizar. O tempo escasseia (falta menos de um mês porque ela dia 18 volta prá Vilnius passar o Natal com os papás) e a arma que me resta (mostrar-lhe o mangalho em fabulosa erecção) não a posso usar aqui no escritório sem arriscar um processo por assédio.
Que fazer? Que fazer?
Um beijo do teu,
Ruca

Caro Zeca,

Ando para te escrever há mais de quinze dias. E cada hora que passa fico mais angustiado por não ter a oportunidade de esparramar aqui as minhas preocupações.
Desde que te escrevi pela última vez aconteceu tanta coisa que nem sei por onde começar. Em vez de ver este blogue como um espaço epistolar tenho de o assumir como um diário, já que tantas coisas boas e más acontecem que a frequência diária é o mínimo aceitável... Eu sou um tipo que precisa de desabafar para parar e tentar perceber.
Comecemos pelas amantes:
O psicólogo da minha amante mandou-a acabar comigo. Ou melhor, o gajo disse-lhe que ela tinha que dizer o que lhe ia na alma e a pobre Verónica, obediente, veio-me dizer que procura uma relação estável, com um rapazinho que a leve ao cinema e a concertos. Eu disse que a compreendia e que achava mesmo muito bem ainda que isso me partisse o coração. Fim de citação, porque não parte rigorosamente nada.
Para falar verdade, apesar de ela deve ter a carinha mais linda que jamais lambi, na cama já deu o que tinha a dar. Passou provas com distinção, atingiu o cum laude (se tivermos em conta a idade da moçoila que eu quase desvirginei aos 19) mas como já por ali ando há já um ano e meio deves compreender que são uvas pisadas e a fermentar.
Enfim, ela acabou por não acabar porque "enquanto não tiver outro namorado podemos ver-nos". Posso ficar descansado que tão cedo ninguém lhe pega. Ou melhor, pegam, mas dão-lhe duas e largam-na. Ela, com a confusão que lhe vai na cabeça vai ser difícil que alguém a ature. Mas quando penso que ela gosta de levar umas boas bofetadas enquanto... bem, é melhor nem pensar. Sabes, ela é daquelas miúdas que têm uma cara que pede uma boa estalada. E ainda por cima gosta. Bem, não é para falr disto que eu aqui estou...
Na verdade ela tinha um namorado, com quem acabou tudo há dois anos, mas que continua a "ver" quando vem de férias à terrinha (a terrinha é uma aldeia aqui perto do Luxemburgo, porque ela está a estudar em Niort, que é, mais ou menos, no cu do mundo se considerarmos que a Alemanha é a cabeça do dito). Esse rapaz é um latagão, monitor de ténis, de 1m92 que prometeu matar-me se me visse com ela porque, diz ele, e passo a citar, que eu ando a fazer pouco dela. Os factos são um pouco diferentes: eu faço mais dela do que ele alguma vez fez, já que o garino tem 20 anos recém-cumpridos, nunca roeu nada daquela qualidade (nem se calhar de outra) e cada vez que lhe salta para as costas é por 5 minutos. Ela precisa pelo menos de dez para se vir (fica aqui a informação, que pode vir a ser útil para eventuais rapazes que a cruzem no futuro e que queiram dar-se ao trabalho de a satisfazer).
Em suma, ela deixou de foder o rapaz porque diz que ela não lhe liga um charuto e, afinal, o sexo com ele não é tão bom como isso. Comigo é, não tenhas dúvidas. Pelo menos eu gosto. O psicólogo disse-lhe paramandar bugiar o tal tenista e ela mandou. Felizmente que o psicólogo lhe disse que eu lhe fazia bem e por isso ela continua a ver-me.
No embalo das confissões que prometeu ao psicólogo, ela disse-me que gostava de assumir algo comigo, eu disse que não podia e ficámos conversados. Ela apanhou o comboio para Niort e agora só pró Natal é que a cheiro, que a promessa de a ir lá ver não passa disso já que duas vezes 800 quilómetros de gasolina no meu carro fazem mossa na carteira, já para não falar das portagens.
Bem, por aqui fico, mas prometo que te escrevo ainda esta semana para te falar de uma lituana que vale uma garrafa de uísque e de uma polaca que faz os melhores broches do lado de lá da cortina de ferro.
Beijos,
Ruca

3 de novembro de 2004

Caro Ruca,

Não te compreendo! Se vais a Paris para te encontrar com a tua amante, como é que precisas de "iluminar as tuas noites"? Percebi que ficaste lá mais 2 ou 3 dias sózinho, mas não podias ter aproveitado para ir beber uns copos com uns gajos e falar de futebol ou mulheres, em vez de ires logo procurar outra companhia feminina? Ao contrário de ti, eu sempre fui fiel ás minhas amantes. Nunca as traí com outras. Enquanto dura o romance,os meus olhos só a vêm a ela. Bem sei que na primeira noite que passei com a Clara, tinha ido prá cama na noite anterior com a Marta Joaquina, a minha amante antes dela. Mas desde essa primeira noite com a Clara, nunca mais fui com a Marta Joaquina e acabei a relação no mês seguinte. Comigo é assim: uma de cada vez!
Por falar nisso, as coisas resolveram-se milagrosamente com a Clara! Depois da última carta que te escrevi, ela ainda descobriu que algumas das suas colegas de trabalho sabiam que ela anda comigo. Isso pôs as coisas ainda pior e eu já estava a ver que o caso não ia ter solução. Na segunda-feira da semana passada recebi um sms dela que dizia: "perdoa-me mas eu não aguento mais!!!". Claro que me caiu o coração aos pés, mas pedi-lhe para ter calma e que falaríamos no dia seguinte. Quando eu já tinha preparado o meu discurso de despedida, ela afinal diz-me que se eu aceitar esperar por ela até ela fazer o exame de condução e não a pressionar, ela aceita manter a nossa relação! Fiquei pasmado! Claro que aceitei! A ideia dela é que quando tirar a carta, pode fugir com o carro do namorado e vir ter comigo mais facilmente e mais seguramente, sem eu ter que a ir buscar à porta do emprego ou de casa e corrermos o risco de sermos vistos. A melhor amiga dela diz que ela não tem coragem de acabar comigo porque sabe que não vai encontrar outro gajo como eu! (fiquei sensibilizado!). Mas eu acho que a razão fundamental que a fez mudar de ideias foi outra. Segundo parece, uma das tais colegas que a viu comigo disse: "lá vai a Clara com o amigo! Ele é tão bonito, que não percebo para que é que ele a quer!" (voltei a ficar bastante sensibilizado!). Conclusão da Clara: "se calhar queria ficar ela contigo! Vaca! Tu és meu!" Gostei! O exame de condução foi na terça-feira. Ela passou!
O Lopes acha que a partir deste momento eu perdi o controle da relação e estou lixado porque vou ter que jogar sempre segundo as regras dela. Não percebo porque é que ele diz isso! Lá por me ter apetecido pôr de joelhos a agradecer-lhe com lágrimas nos olhos o facto de ela já não querer acabar, não quer dizer que tenha perdido o controle! E se ela me quiser dar com o chicote, que mal é que faz? Se calhar até gosto, sei lá!

Nota: guardei o contacto que vinha na página da Kathia. Talvez volte a Paris em breve. Se me encontrar com ela dou-lhe cumprimentos teus, ok?

Abraço.
Zeca