29 de dezembro de 2004

Caro Ruca,

Pronto, acabou-se tudo! O moribundo morreu! Eu e a Clara acabamos tudo! Ela estava cada vez mais preocupada com a hipótese de alguém descobrir e assim dava-me cada vez menos. Eu já estava farto de estar à espera que lhe passasse o medo e assim vai cada um para seu lado. Descobri que afinal não vou morrer sem ela, mas é verdade que me está já a fazer uma falta dos diabos. Ela queria que ficassemos amigos mas eu disse-lhe que amigos tenho eu com fartura e que podia meter a amizade num sítio que tu sabes qual é! Amigas é bom, mas para conversa já eu tenho, não preciso de mais. Assim pode ser que ela sinta tantas saudades minhas que um dia destes venha aí por-se de joelhos á minha frente a pedir para eu voltar! (Como vês, estou completamente curado e também sou um grande mentiroso!).
A verdade é que, com estas e com outras, há mais de 1 mês que já não vejo o padeiro (ou será a padaria?). A minha mulher anda muito satisfeita porque, graças ao meu estado de espírito actual, não a tenho chateado e eu até me estou a habituar. Pode ser que deixe de a chatear de vez!
Dei por mim a visitar sites de putas! E fiquei agradavelmente surpreendido com a qualidade. Há que reconhecer que a invasão de brasileiras aumentou muito a qualidade da oferta nestes serviços. Fiquei curioso!
Na próxima falo-te da Maria. É uma menina de 24 anos, que me parece mais choca que a Clara mas até é mais bonita. Trabalha numa empresa com quem eu trabalho e anda a dar-me muito troco! E não tem namorado!
Um grande abraço e tudo de bom para ti em 2005.
Zeca

28 de novembro de 2004

Caro Zeca,

Não, não me tornei rabeta! E também não te vou convencer a mudar os teus gosots que estás muito bem assim.
Espantas-me tu duvidares das minhas tendências. Nós que passeávamos de mão dada quando íamos para a cantina universitária, nós que nos acariciávamos ternamente no Piano's depois de almoço, nós que experimentamos essas pequenas amostras do prazer homossexual que nos deixram convictos de que a nossa via era outra.
Espanta-me por isso que penses que eu podia mudar de gostos. Não mudei e quase que posso dizer que desta água não beberei graças a algumas situações recentes que me permitiram ter a certeza de que não gosto de caralhos.
Aqui fica a resposta e a confirmação que, espero, te deixe mais descansado. Com esta conversa perdi a vontade de te falar da puta polaca que faz os melhores broches a Leste do Oder.
Fica prá próxima,

PS - Os beijos entre amigos são uma velha brincadeira entre mim e uns amigos daqui. Um dia, não sei porquê, alguém disse: "beijinhos no sítio do costume", e a moda pegou mesmo entre os homens de barba mais rija. Mas, clarifico, ninguém dá beijinhos a ninguém, apesar de essa moda estar cada vez mais implantada por estas paragens...

Teu Ruca

24 de novembro de 2004

Caro Ruca,

Acho que estás a ficar muito confuso e isso assusta-me! Nunca te tinhas despedido de mim com "um beijo do teu Ruca"! Sinceramente, acho que a tua história da Lituana e da garrafa de uisque está contada de forma atabalhoada e dificil de entender! Penso que isso reflete o teu estado de espirito. Isso leva-me a um raciocínio aterrador: será que as tuas multiplas experiências com mulheres te estarão a provocar cansaço e frustração e por causa disso estarás a equacionar abrir novas perspectivas para a tua vida sexual, encarando a possibilidade de experiências com pessoas do mesmo sexo? Foda-se, para quê estar com rodeios: estás a pensar em virar paneleiro?! Sinceramente, se é esse o caso, digo-te do fundo do coração : não podes contar comigo! Abrenúncio! (vejo agora que nunca escrevi esta palavra. Será assim que se escreve?). Bem sei que já nos abraçamos várias vezes e chegamos a chorar no ombro um do outro, mas que diabo, um homem também pode abraçar um amigo sem que isso nos provoque tusa! Eu sei que tu acreditas que todas as mulheres têm dentro de si uma lésbica, mesmo que não dêm por isso e assusta-me pensar que tu podes achar que cada homem tem no seu interior um maricas pronto a saltar cá para fora!

Por favor sossega-me! Diz-me que estou enganado! Se não for esse o caso, embora eu te possa aceitar tal como tu serás (mas com mais cautela), por favor não tentes convencer-me de que também eu posso seguir esse caminho. Nunca te perdoaria!

Um grande abraço másculo de macho para macho!
Zeca

22 de novembro de 2004

Caro Zeca,

Hoje vou-te contar a história da lituana e da garrafa de uísque.
O Russo é um amigo meu que gosta de lituanas. Gosta de tudo em geral porque tem boa boca, mas se forem de leste gosta mais; e então de lituanas nem se fala. O Russo, dizia eu, tem uma amiga lituana, a quem nós também chamamos litauskas porque os nomes deles lá acabm muitas vezes em auskas e aitas e outras sons sonoros assim. A amiga do Russo tem uma amiga que trabalha comigo. Essa amiga levava com ele todos os dias, mesmo nos de período.
Ora o Russo, que além de gostar de gajas de leste também aprecia o jogo, apostou que eu levava a litauskas em questão para a cama antes do Natal. E a aposta foi com uma das amigas dela e vale uma garrafa de uísque!
Agora estás a ver a minha posição: eu que nem sequer estou muito motivado; eu, que me custa roubar a rapariga de alguém (esqueci-me de dizer que ela tem um namorado recente que se chama Migaitas ou uma merda assim). Por outro lado, não posso deixar um amigo pagar uma garrafa de uísque sem fazer um esforço para que seja ele a ganhá-la. Pior, a coisa não está fácil porque a garina anda em plena lua-de-mel com o tal Gaitas e não me parece que nutra o mesmo olhar tenrinho que fazia quando eu lhe olhava pró entrecoxas...
Conclusão, começo a duvidar seriamente dos meus dotes e não sei que armas utilizar. O tempo escasseia (falta menos de um mês porque ela dia 18 volta prá Vilnius passar o Natal com os papás) e a arma que me resta (mostrar-lhe o mangalho em fabulosa erecção) não a posso usar aqui no escritório sem arriscar um processo por assédio.
Que fazer? Que fazer?
Um beijo do teu,
Ruca

Caro Zeca,

Ando para te escrever há mais de quinze dias. E cada hora que passa fico mais angustiado por não ter a oportunidade de esparramar aqui as minhas preocupações.
Desde que te escrevi pela última vez aconteceu tanta coisa que nem sei por onde começar. Em vez de ver este blogue como um espaço epistolar tenho de o assumir como um diário, já que tantas coisas boas e más acontecem que a frequência diária é o mínimo aceitável... Eu sou um tipo que precisa de desabafar para parar e tentar perceber.
Comecemos pelas amantes:
O psicólogo da minha amante mandou-a acabar comigo. Ou melhor, o gajo disse-lhe que ela tinha que dizer o que lhe ia na alma e a pobre Verónica, obediente, veio-me dizer que procura uma relação estável, com um rapazinho que a leve ao cinema e a concertos. Eu disse que a compreendia e que achava mesmo muito bem ainda que isso me partisse o coração. Fim de citação, porque não parte rigorosamente nada.
Para falar verdade, apesar de ela deve ter a carinha mais linda que jamais lambi, na cama já deu o que tinha a dar. Passou provas com distinção, atingiu o cum laude (se tivermos em conta a idade da moçoila que eu quase desvirginei aos 19) mas como já por ali ando há já um ano e meio deves compreender que são uvas pisadas e a fermentar.
Enfim, ela acabou por não acabar porque "enquanto não tiver outro namorado podemos ver-nos". Posso ficar descansado que tão cedo ninguém lhe pega. Ou melhor, pegam, mas dão-lhe duas e largam-na. Ela, com a confusão que lhe vai na cabeça vai ser difícil que alguém a ature. Mas quando penso que ela gosta de levar umas boas bofetadas enquanto... bem, é melhor nem pensar. Sabes, ela é daquelas miúdas que têm uma cara que pede uma boa estalada. E ainda por cima gosta. Bem, não é para falr disto que eu aqui estou...
Na verdade ela tinha um namorado, com quem acabou tudo há dois anos, mas que continua a "ver" quando vem de férias à terrinha (a terrinha é uma aldeia aqui perto do Luxemburgo, porque ela está a estudar em Niort, que é, mais ou menos, no cu do mundo se considerarmos que a Alemanha é a cabeça do dito). Esse rapaz é um latagão, monitor de ténis, de 1m92 que prometeu matar-me se me visse com ela porque, diz ele, e passo a citar, que eu ando a fazer pouco dela. Os factos são um pouco diferentes: eu faço mais dela do que ele alguma vez fez, já que o garino tem 20 anos recém-cumpridos, nunca roeu nada daquela qualidade (nem se calhar de outra) e cada vez que lhe salta para as costas é por 5 minutos. Ela precisa pelo menos de dez para se vir (fica aqui a informação, que pode vir a ser útil para eventuais rapazes que a cruzem no futuro e que queiram dar-se ao trabalho de a satisfazer).
Em suma, ela deixou de foder o rapaz porque diz que ela não lhe liga um charuto e, afinal, o sexo com ele não é tão bom como isso. Comigo é, não tenhas dúvidas. Pelo menos eu gosto. O psicólogo disse-lhe paramandar bugiar o tal tenista e ela mandou. Felizmente que o psicólogo lhe disse que eu lhe fazia bem e por isso ela continua a ver-me.
No embalo das confissões que prometeu ao psicólogo, ela disse-me que gostava de assumir algo comigo, eu disse que não podia e ficámos conversados. Ela apanhou o comboio para Niort e agora só pró Natal é que a cheiro, que a promessa de a ir lá ver não passa disso já que duas vezes 800 quilómetros de gasolina no meu carro fazem mossa na carteira, já para não falar das portagens.
Bem, por aqui fico, mas prometo que te escrevo ainda esta semana para te falar de uma lituana que vale uma garrafa de uísque e de uma polaca que faz os melhores broches do lado de lá da cortina de ferro.
Beijos,
Ruca

3 de novembro de 2004

Caro Ruca,

Não te compreendo! Se vais a Paris para te encontrar com a tua amante, como é que precisas de "iluminar as tuas noites"? Percebi que ficaste lá mais 2 ou 3 dias sózinho, mas não podias ter aproveitado para ir beber uns copos com uns gajos e falar de futebol ou mulheres, em vez de ires logo procurar outra companhia feminina? Ao contrário de ti, eu sempre fui fiel ás minhas amantes. Nunca as traí com outras. Enquanto dura o romance,os meus olhos só a vêm a ela. Bem sei que na primeira noite que passei com a Clara, tinha ido prá cama na noite anterior com a Marta Joaquina, a minha amante antes dela. Mas desde essa primeira noite com a Clara, nunca mais fui com a Marta Joaquina e acabei a relação no mês seguinte. Comigo é assim: uma de cada vez!
Por falar nisso, as coisas resolveram-se milagrosamente com a Clara! Depois da última carta que te escrevi, ela ainda descobriu que algumas das suas colegas de trabalho sabiam que ela anda comigo. Isso pôs as coisas ainda pior e eu já estava a ver que o caso não ia ter solução. Na segunda-feira da semana passada recebi um sms dela que dizia: "perdoa-me mas eu não aguento mais!!!". Claro que me caiu o coração aos pés, mas pedi-lhe para ter calma e que falaríamos no dia seguinte. Quando eu já tinha preparado o meu discurso de despedida, ela afinal diz-me que se eu aceitar esperar por ela até ela fazer o exame de condução e não a pressionar, ela aceita manter a nossa relação! Fiquei pasmado! Claro que aceitei! A ideia dela é que quando tirar a carta, pode fugir com o carro do namorado e vir ter comigo mais facilmente e mais seguramente, sem eu ter que a ir buscar à porta do emprego ou de casa e corrermos o risco de sermos vistos. A melhor amiga dela diz que ela não tem coragem de acabar comigo porque sabe que não vai encontrar outro gajo como eu! (fiquei sensibilizado!). Mas eu acho que a razão fundamental que a fez mudar de ideias foi outra. Segundo parece, uma das tais colegas que a viu comigo disse: "lá vai a Clara com o amigo! Ele é tão bonito, que não percebo para que é que ele a quer!" (voltei a ficar bastante sensibilizado!). Conclusão da Clara: "se calhar queria ficar ela contigo! Vaca! Tu és meu!" Gostei! O exame de condução foi na terça-feira. Ela passou!
O Lopes acha que a partir deste momento eu perdi o controle da relação e estou lixado porque vou ter que jogar sempre segundo as regras dela. Não percebo porque é que ele diz isso! Lá por me ter apetecido pôr de joelhos a agradecer-lhe com lágrimas nos olhos o facto de ela já não querer acabar, não quer dizer que tenha perdido o controle! E se ela me quiser dar com o chicote, que mal é que faz? Se calhar até gosto, sei lá!

Nota: guardei o contacto que vinha na página da Kathia. Talvez volte a Paris em breve. Se me encontrar com ela dou-lhe cumprimentos teus, ok?

Abraço.
Zeca

25 de outubro de 2004

Caro Zeca,

Fiquei preocupado com as notícias que me deste. Tens razão, nós não temos idade para andar a desperdiçar as miúdas de vinte anos que nos aparecem pela frente. Eu ainda não sei como arranjei a minha e parece-me difícil vir a arranjar outra assim nos tempos cada vez mais difíceis que se aproximam. O problema é que nós nos afastamos dos vinte anos, mas as miúdas de vinte vão ter vinte toda a vida. Um drama!
Recebi a tua mensagem a dizer que ias a Paris. Tive pena de não te cruzar nos Champs! Fui no domingo para passar a noite com a minha amante e depois passei lá três dias num curso engraçado onde não aprendi grande coisa. Mas, prontos, é sempre bom passar uns tempos na Cidade-Luz.
Para iluminar as minhas noites decidi investigar o que de bom por lá se fazia em termos de entretenimento de homens sós. Encontrei. Apesar das proibições e da estrita regulamentação no que respeita à (Deus me livre) prostituição e proxenetismo, a noite parisiense ganhou muito com o alargamento da União. Organizadíssimas agências húngaras e checas mandam meninas até Paris para fazerem excursões de oito a quinze dias e, para pagarem os hóteis, que são muito caros, essas raparigas pedem-te entre 150 e 300 euros para te entreterem durante uma hora. Trabalho digno que não envergonha ninguém e que ajuda a melhorar o nível de vida nos países aderentes. Pergunto-me porque é que Portugal não investiu mais nisto nos anos 80, em vez de continuar a mandar trolhas pró Luxemburgo. Talvez falta de mão-de-obra qualificada?
Para concluir, telefonei a uma dessas meninas estrangeiras e recebi a visita simpática da Kathia, que é uma pioneira do alargamento europeu de 2032. Nascida em São Petersburgo há 23 anos, a Kathia disse-me logo que esta não era o seu verdadeiro nome mas que não me diria o verdadeiro. Coisa que acabou por fazer depois de meia hora a ouvirmos música russa no meu iPod. Tu gostas de música russa? Gosto, menti. Na verdade gosto é das pernas e das mamas das cantoras de um grupo pop moscovita que se chama Via Gra. Ela adora as três Via Gra e tenho a impressãoq eu quando for grande quer ser como elas. Mas já é. Tão boa ou melhor que elas. Um mimo, uma princesa, uma rainha. Se quiseres vê-la espreita http://kathia.sexy.site.voila.fr.
Bem, agora tenho de ir porque prometi que lhe gravava um CD com as Via Gra e a banda sonora original do Brat 2, um filme policial cómico sobre dois russos em Nova Iorque. Não deve ser tão bom como The Terminal mas a música ajuda a engatar russas...
Um abraço,
Ruca

14 de outubro de 2004

Caro Ruca,

Ando muito em baixo pá! A Clara quer acabar tudo! A relação está por um fio! As coisas estavam a ficar melhor e de repente o namorado dela descobriu um sms meu muito comprometedor! Eu sempre lhe disse que não devia guardar as minhas mensagens mas ela não tinha coragem de as apagar. Dizia ela que tinha proibido o namorado de lhe mexer no telemóvel e que se o apanhasse acabariam tudo! É claro que eu sempre pensei que se fosse eu, ficaria logo desconfiado e seria exactamente isso que eu iria fazer na primeira oportunidade. Também nunca percebi como é que o gajo aceitou isso! Ou era burro, ou (a hipótese mais provável) tinha tanto medo do que ía encontrar que nem tinha coragem! Parece que finalmente a arranjou e eu nem percebo como é que ela lhe deu a volta e com que argumentos! A verdade é que deu e é claro que em vez de acabar tudo com ele, como lhe tinha prometido, assustou-se, concluiu que não o que perder, que não aguentará o escândalo e que não poderá suportar a vergonha que sentirá perante a sua família, mas sobretudo perante a família dele. Excusado será dizer que, sendo assim, quem fica em maus lençóis sou seu! Ficou cheia de medo e acha que não vai aguentar a pressão. Para ela, ficou agora claro que a nossa relação não tem futuro. Ela diz que, apesar de saber que não temos hipóteses, não tem coragem de acabar, porque sabe que se arrependerá no minuto seguinte! Eu digo que isto parece quando o meu pai estava a morrer: eu sabia que ele não tinha hipótese de se salvar, sabia que quando tudo acabasse ele e nós pararíamos de sofrer, mas no entanto, nunca quis que ele morresse! Parecemos dois parvos! Isto não ata nem desata, mas ninguém desliga as máquinas! Por mim sei porquê. Primeiro, porque gosto mesmo da miúda. Segundo, porque ela tem 20 anos e eu sei que dificilmente voltarei a ter uma mulher de 20 anos. Já tenho 39, que diabo! Sei que ela ás vezes é mesmo "operária", que o seu nível cultural é fracote e que ninguém acharia correcto se eu abandonasse a minha família para me juntar a ela. Sinceramente, eu próprio acho que me arrependeria se desse esse passo. Mas que diabo, ela é esperta, é divertida, surpreende-me muitas vezes com conhecimentos que tem e que eu próprio não domino, sinto-me muito bem ao pé dela e, sobretudo, quando está nua tem um nível intelectual absolutamente extraordinário! Que me interessa o nível intelectual da nossa conversa quando ela me arranha todo de prazer?! E onde é que eu vou encontar outra mulher que durante 14 meses da nossa relação teve sempre orgasmos múltiplos cada vez que fazíamos amor, mesmo que durante muito tempo tivessemos sexo pelo menos 1 vez por semana e muitas delas 2 ou 3, sem que ela se cansasse ou achasse rotineiro? Claro que eu estou aterrorizado! Quem não estaria, ao pressentir uma perda tão grande e com a certeza quase absoluta de nunca voltar a arranjar substituta à altura! E como é que eu posso sequer imaginar que vou voltar a ficar em casa quietinho com a minha mulher e o sexo raro e medíocre que temos? Aínda por cima, não realizei ainda todas as minhas fantasias sexuais com ela! Por várias razões, apesar de já ter conseguido o seu acordo tácito, nunca tivemos sexo anal. E isso vai-me ficar atravessado como uma das maiores frustrações da minha vida!Não é fácil, pá! Ando tão descoroçoado que ontem marquei uma viagem de trabalho a Paris pela Net. Enganei-me nas putas das datas e tive que comprar 1 bilhete novo! Hoje de manhã, entrei numa rua de sentido único, pelo sentido proibido! E eu conheço a puta da rua de cor! É a minha cidade, foda-se! Nunca me senti assim por causa de uma mulher! E tu sabes que eu me apaixono facilmente e perdidamente!
Bem, se não for passado a ferro por um camião caso entre na via errada da auto-estrada ou algo parecido, volto a dar-te notícias quando houver novidades.
Abraço,
Zeca

14 de setembro de 2004

Caro Zeca,

Eu acho que consigo respeitar a regra número um. Ou seja, não me apaixono pelas amantes. Bem sei que às vezes é difícil e devo admitir que às vezes ando um bocado desorientado, mas apaixonar não.
Na realidade não estou apaixonado por absolutamente ninguém. Nem sequer pelo meu carro, de que gosto muito mas sem mais. A minha inquilina é uma gaja porreira que não chateia. É boa na cama e alinha em tudo o que eu quero, incluindo coisas menos católicas que um dia destes pode ser que te conte. Mas não estou apaixonado. tenho muita ternura por ela e gosto de "tomar conta" dela mas é só.
Eu tenho este defeito de me armar em Pigmalião. Dar banho às meninas, ensinar-lhes coisas, pô-las a falar francês e, de preferência, arranjar-lhes um trabalho estável. É por isso que a minha amante francesa é uma novidade: é estudante e os pais pagam-lhe tudo. Isso para mim é inédito.
As últimas relações que tive andei com elas a cargo e a suportar os encargos.
É por isso que esta lituana de que te falei me excita. Porque ela tem um trabalho bom e estável e até insiste para pagar o almoço a meias (coisa nunca vista!).
Bem, agora vou-te deixar que tenho de ir comer à cantina para ver se a cruzo por lá. Ela hoje estava com umas calças justinhas de bombazina fininha que lhe ficavam tão bem...!
Ruca

Caro Ruca,

Eu nunca fui capaz de separar sexo dos sentimentos. Apaixonei-me sempre (bem, quase sempre) pelas gajas que quiseram ir prá cama comigo. E esta é muito especial. Nunca conheci ninguém como ela, tanto no negativo, como no positivo, e é por isso que estou tão preso. No entanto, a questão do divórcio não tem a ver directamente com esta rapariga. É algo que eu já equaciono há algum tempo, mesmo quando aínda não tinha ninguém. A verdade é que a minha relação com a Beatriz está esgotada e eu acho que nunca mais seremos capazes de a recuperar. Em linguagem correcta, já não nos amamos. O nosso casamento passou a ser uma sociedade de interesses, com duas filhas que ambos amamos e com um sexo muito fraquinho e muito raro. Assusta-me pensar que é isto que eu terei para o resto da vida, principalmente agora que acho que vou ficar sem a Clara.
Mas ouve lá, tu és pior do que eu, porque eu caso-me, mesmo que seja com as amantes, e passo a ser fiel, e tu estás sempre a trocar. És lixado, pá! Então tu não tiveste já problemas de progressão na carreira por andares a comer gajas no serviço? E continuas?
Se fosse eu também continuava, deixa lá!
Zeca

Caro Zeca,

Foda-se! Isto é sério caro amigo! A palavra divórcio aflorar a ponta dos teus dedos choca-me. Eu pensava que tu mantinhas estas relações extra-conjugais à distância da família e dos sentimentos...
Pensa bem e perdoa à rapariga andar a deixar-te em branco: pode ser só uma forma de te mostrar que sentes a falta dela. Como diz um amigo meu, elas são todas umas putas.
Eu ando com uma miúda de 21 anos que estuda a 800 kms daqui e que eu evito com desculpas esfarrapadas. Invento que vou em trabalho para Bruxelas e Londres e que não posso vê-la. O resultado é irmos para a cama de quinze em quinze dias (sempre com resultados fabulosos). Mas a coisa também esfriou nos últimos tempos e ela passou a semana passada a dar-me tampas e a inventar desculpas para não nos vermos. Partiu para a universidade para fazer exames de Setembro até sexta. Se nesse dia não der o corpo ao manifesto também vou ficar muito fodido. Mas não acabo. Se ela quiser que acabe ela.
Mas isto está pior que isto.
Conheci num cabaré uma francesa fabulosa que convidei para jantar. Ela disse que sim e acabamos no hotel. Mas eu não consegui. Desespero, consternação e quase pranto! Pior: a garina regressava à Normândia no dia seguinte e não lhe pus mais a vista em cima. Mas não me cansei de lhe mandar SMS's.
Mas isto continua.
Há aqui no serviço uma lituana fabulosa que vai trabalhar no meu sector e que eu tenho uma vontade tremenda de provar. Já a convidei para uma entrevista de preparação e um almocinho. Amanhã tenho mais uma reunião com ela e daqui até ao fim do mês vou-me amandar pra cima dela. Sem emenda!
Com a minha inquilina está tudo bem, excepto que no meio disto tudo de vez em quando esqueço-me de a comer. E ela pergunta de quando em vez se eu tenho uma amante. Eu rio e claro que digo que não.
Beijinhos do Ruca.

Caro Ruca,

Sou padrinho do filho do Abel. Como padrinho sinto-me igual a mim próprio. O pai da criança disse-me logo que não era preciso dar prendas na Páscoa, o que me descansou bastante.
O trabalho está todo fodido! A crise ferrou os dentes e não quer largar! Não há ponta por onde se lhe pegue e não há luz ao fundo do túnel. Veremos. A verdade é que ando muito stressado por causa disso e preocupado com o futuro.
Ando também muito em baixo. A minha amiga anda a fugir-me desde as férias. Não me corresponde e está a ofender-me com o seu desprezo e a deixar-me à beira de um ataque de nervos até porque já lhe perguntei e ela diz que não quer acabar e que aínda sente tudo o que sentia por mim. A verdade é que eu gosto da rapariga e não quero perdê-la. Além disso, o sexo com ela tornou-se uma droga para mim e aínda menos quer perder isso. Esta semana combinamos ir prá cama mas já estou a desconfiar que ela vai falhar. Se assim for, acho que vou pôr um ponto final em tudo porque me vou sentir demasiado ofendido para aceitar. Veremos.
Tenho pensado em divorciar-me da Beatriz mas não concebo a ideia de não viver com as minhas filhas todos os dias e, apesar de ela não me ligar a ponta de um corno, a verdade é que também não me chateia e assim não me dá nenhuma razão para eu querer saír de casa. Tou fodido! (É claro que tirando tu e o marido da Xica que morou conosco em Braga (lembras-te?) ninguém sabe disto e é por isso que ainda me convidam pra padrinho.
Abraço.
Zeca

13 de junho de 2004

Terra pátria

Ontem sofri, ainda que menos que o costume, com a derrota de Portugal frente à Grécia. De manhã tinha colocado na varanda uma bandeira de Portugal que orgulhosamente flutua ao ar fresco destes dias. A chuva enrolou-a várias vezes no seu mastro durante o dia como que a agoirar um mau resultado.
Assim foi. Perdemos e eu só não fiquei deprimido porque estava mais preocupado com grelhar as carnes do churrasco e com encher os copos de cerveja dos amigos que tinha em casa.
Depois do jogo de Portugal assistimos ao Rússia-Espanha. E eis senão quando a Irina se levanta ao escutar o hino russo. A Irina é Bielorrussa. Mudaste de nacionalidade, perguntei com uma ponta de maldade para tentar encavacá-la. Gosto tanto deste hino, disse ela. A resposta não me satisfez e fiquei com pena da Irina. Como é que alguém pode ter dúvidas quanto à sua pertença nacional? Como pode alguém levantar-se para homenagear o hino do vizinho?
A Irina não tem nacionalidade, tem um passaporte que diz que ela é bielorrussa. Mas podia dizer russa que ela ficava ainda mais satisfeita. As pessoas gostam de pertencer a países grandes? Talvez seja isso. Talvez seja mais prestigiante ser russo que bielorrusso. Eu gosto de ser português e não é por a Espanha ser maior e mais importante na cena internacional que me apetece prestar vassalagem ao meu amigo Juan Carlos.
Mas as minhas surpresas não ficaram por aqui. A Irina perguntou à minha inquilina se ela não estava a pensar mudar de nacionalidade. Portuguesa; sei lá... Isto quer dizer que a Irina já pensou em ser portuguesa. Talvez porque está apaixonada por um português. Talvez porque, para ela, tudo é melhor que ser bielorrusso.
A minha inquilina ficou surpresa e disse-lhe que não. Que gosta muito de ser polaca e que não troca a sua nacionalidade por nada. A Irina desistiu mas deve ter pensado que ser polaco é xunga e que a minha inquilina não está a ver bem o filme.
A Olga é russa, mas por via do casamento também tem passaporte francês. Sei que ela gosta de França e que outro dia disse que se sente mais francesa que outra coisa. Perguntei-lhe por isso por quem torceria ela numa eventual final do Euro 2004 que envolvesse a Rússia e a França. Como a Olga anda de candeias às avessas com o marido francês e até considera a possibilidade de regressar ao Caucaso, respondeu, depois de uns segundos de reflexão, Rússia. No entanto, a Olga não se levantou quando o hino russo tocou nem ficou muito aborrecida por causa da derrota com a Espanha.
É estranha a forma como alguns vivem a sua nacionalidade, como a assumem e por que valores a trocariam. Talvez eu seja conservador, talvez seja demasiado nacionalista, mas não consigo imaginar, na ordem actual das coisas, uma razão que me levasse a deixar de ser português. E é esse mesmo espírito que faz de mim pouco europeu. Que não me deixa levar até ao fim o raciocínio da união que a Europa prepara, porque não me quero diluir nesse "melting pot" de países em que ser português hoje pode equivaler a ser letão, irlandês ou romeno amanhã.

15 de maio de 2004

O chupao - The End

Dizer à Svetlana vamos ali para um hotel não parecia terafa simples. A sorridente Sveta dava a entender que era séria, angelical e que o facto de trabalhar num cabaré, ser apalpada por mãos diferentes todas as horas e a preço de champanhe era puro acidente do destino. Uma falha cósmica que o Fernando, por exemplo, poderia reparar.
O Fernando estava convencido de que ela queria um homem para casar, para ficar no Ocidente com ele e, quem sabe, ter filhos e uma casa em Itzig. A Svetlana não sabia sequer onde era Itzig mas o Fernando sabe que lá há um hotelzinho familiar mesmo ali na curva quem vem da estrada que vai dar ao cemitério alemão. "E se fôssemos ver o cemitério alemão", perguntou o Fernando com um sorriso motivado. Ela não percebeu e por isso disse que sim. O Fernando meteu o carro ao caminho e as mnaos à obra na coxa esquerda da Svetlana que por acaso trazia uns jeans duros demais para se aproveitar alguma coisa.
Quando eu te tirar estes jeans não sobra nada, pensava o Fernando enquanto a Svetlana murmurava a música do Robbie Williams que o Fernando tinha posto de propósito para ela.
Chegados em frente ao cemitério o Fernando julgou por bem dizer algo e disse que de noite metia um bocado demedo, não é? Ela entrou em pânico quando percebeu onde estavam e disse qualquer coisa como tirem-me daqui que o Fernando não percebeu, mas percebeu que ela não estava nada contente por ali estar.
Vamos tomar um copo aqui perto para acalmar, disse com ar desanimado e desculposo. Chegado à entrada do hotel o Fernando explicou que já que não havia bares abertos aquelas horas da noite o melhor era tomarem qualquer coisa do minibar que havia nos quarto do hotel. Ela só percebeu que ia para um hotel quando o Fernando girou a chave e disse: entra, hoje é o primeiro dia do resto da tua vida. A Svetlana desde então nunca mais gostou de Sérgio Godinho.

25 de janeiro de 2004

O chupão - Part 3

O jantar correu bem. O Fernando só cometeu um erro: disse ao escanção para escolher o vinho. Ele escolheu um sicialiano, porque o Fernando disse que tanto ele como "a menina" gostam de vinhos encorpados. Esse siciliano chamado Della não sei quê custou só 100 euros, valor que o empregado se sentiu obrigado a explicar: "eu sou italiano e digo-lhe que este vinho que beberam é do melhor que há na Sicília".
Com um amargo de boca Fernando sacou do American Express e aproveitou para mostrar sem mostrar que era cheio de pasta. OK, 220 euros, valeu-os bem, não valeu? A Svetlana até tinha o coração ao pé da boca e balbuciou que isso é o preço de uma garrafa lá no sítio onde ela trabalha. O Fernando já tinha pensado a mesma coisa mas a esperança de levar a Svetlana para um hotel fazia-lhe pensar que afinal nem foi caro.

2 de janeiro de 2004

O chupão - Part 2

Jantar com uma russa na cidade onde o Fernando mora é a mesma coisa que dizer a todos os outros clientes do restaurante: olhem para mim aqui a enganar a minha mulher com esta puta do cabaré. Russa nessa cidade é sinónima de puta, o que dá sempre para brincar com os amigos fazendo trocadilhos de classe com a palavra russa, inspirando-se em velhas expressões tais como mula russa, salada russa e outras combinações que à mesa do café ficam sempre bem e alegram o ambiente.
O Fernando estava disposto a investir nesse jantar. Foi ao tal restaurante italiano muito chique e bastante caro e decidiu impressionar. Já tinhas vindo aqui? Eu venho cá almoçar muitas vezes. Eles têm um prato do dia excelente à hora de almoço que só custa 20 euros; e como eu trabalho aqui perto dá muito jeito. A Svetlana abstinha-se de comentar. Disfrutava o pato com molho de mel e trufas que custava 28 dele. Por outro lado, o Fernando tinha sempre a distinta impressão de que a miúda não percebia metade do que ele dizia. Na realidade a Sveta falava mal inglês e em português só sabia tchim tchim quando brindava.