3 de maio de 2005

Caro Ruca,

Tinhas razão. Como te confessei quando jantamos, acabei com a Clara mais duas vezes e outras tantas recomecei, até ter a certeza que já não havia mesmo mais sumo para espremer. Tu sabes que eu sou muito comodista e a ideia de ter que arranjar outra miúda quando esta era tão boa, cansava-me só de pensar! Mas não havia nada a fazer. A verdade é que há já dois meses que não a vejo, não falo com ela nem com ninguém que a tenha visto ou a conheça. Foi um corte radical! Para ser sincero, eu no fundo esperava que ela acabasse por descobrir que não podia viver sem mim e viesse ter comigo outra vez, mas desta vez enganei-me. Se calhar, ao contrário de ti, não devo ter feito tudo bem. Serve-me de lição.
Sendo assim, decidi experimentar uma coisa que nunca tinha experimentado e que hoje está muito na moda: caír em depressão. Durante 1 mês andei muito em baixo, numa tristeza profunda, a apetecer-me só dormir. No entanto, mesmo nisto, houve certamente alguma coisa que falhou, porque nunca me apeteceu suicidar-me. Aínda houve um dia que pensei que se morresse não fazia falta nenhuma mas depois lembrei-me que no dia seguinte tinha que levar o carro da minha mulher á revisão e essa ideia passou-me logo!
Ora, perante o fracasso evidente do meu estado depressivo, resolvi desisitir e regressar á vida. O pior é que durante quase 2 anos desabituei-me de tentar o meu charme com outras mulheres e agora a coisa anda um bocado emperrada. Primeiro tentei disparar a alvos bem definidos. Falei-te na Maria. Já estou farto de lhe dar tiros mas a gaja não cai. Nunca me diz que não, mas aínda não me disse que sim. Nem ata nem desata e já estou a ficar farto dela! Resolvi então disparar em todas as direcções. Tem sido tipo metrelhadora e tudo o que mexe leva tiro! Mas a verdade é que me parece que, além de aínda não ter acertado em ninguém, ando a espantar a caça! Tenho que esfriar a cabeça e voltar a um plano bem delineado! Mas é difícil! É que com estas e com outras, já não como fora de casa faz amanhã 6 meses! E um gajo com fome não pensa bem! A vista turva-se-nos e as ideias baralham-se! Ontem dei comigo a pensar que a mulher de um fornecedor meu, apesar de nunca se rir, é no fundo muito atraente. Ora, ela tem praí 45 anos e eu nunca lhe encontrei antes qualquer sinal de sensualidade! Regressei imediatamente ao escritório e não voltei a saír até ao final do dia! Estou a começar a ficar preocupado!
Mas tudo se há-de resolver! Hoje temos o nosso Chelsea para ver e de jogo em jogo um gajo vai-se esquecendo um pouco até a sorte voltar a sorrir.
Bom, agora tenho que ficar por aqui pois tenho que ir falar com o meu vizinho sobre um problema comum. O rapaz até tem o seu charme e é muito bem parecido! 
Um grande abraço.
Zeca

12 de abril de 2005

Caro Zeca,

Foi um prazer ver-te para aquele jantarzinho agradável. É bom descobrir que as nossas vidas, apesar de separadas, continuam a ter curiosos paralelismos. Não estou a pensar no facto de gostarmos ambos de miúdas de 18 anos nem de não sermos maridos exemplares, que isto é tão comum que faz de nós gente pouco original... Mas é curioso que certas coisas nos aconteçam mais ou menos ao mesmo tempo, apesar de nem sequer falarmos nisso e de não mantermos contactos regulares.
Por aqui nada mudou desde que vi. Continuo a sentir-me um bocado cansado e bastante casado. A primeira incomoda-me, a segunda nem por isso. A sensação de estar casado pode ser boa, é preciso é que coincida com fases da vida em que nos apeteça ter essa sensação de calma e segurança que a vida pantufeira permite. Acabas por sair menos, gastas menos, mas chegas sempre ao fim do mês sem pasta. Porquê? Porque os móveis ainda são mais caros que os jantares e as plantas custam a mesma coisa que uma noite nos copos. Resultado: tenho uma casa cada vez mais gira e utilizo-a cada vez mais tempo.
Por falar na minha casa: a minha ex-amante não me larga a braguilha. Voltou da universidade para faze rum estágio aqui nas redondezas. Essa foi uma das razões que me levaram a acabar com ela: não ia poder gerir uma relação tão próxima nem resistir à vontade de a ir ver muitas vezes. A minha vida com os meus amigos ia reduzir-se a um mínimo, como é o caso de um amigo meu que desde que se atrelou só aparece se eu lhe ligar (ele reconhecer-se-à...). Por isso acabei, mas... ela voltou à carga. Sabes como é, elas quand são bem tratadas na cama voltam sempre ao paizinho. E aqui o je deu-lhe mais, muito mais, do que ela algo vez poderia imaginar. Isto não é para me gabar, até porque a miúda ainda tem umas passas para passar dada a sua tenra idade, mas o gajo que, no fim, ficar com ela vai ter muita sorte.

9 de março de 2005

Caro Ruca,

Esqueci-me de te dizer que já vi o Lost in Translation e gostei muito. Obrigado pá! De qualquer modo, já nem me lembra bem porque é que eu odiava tanto os japoneses.
Agora que já não trabalho com eles, até os acho simpáticos. Para mim agora, os mais ranhosos do universo são americanas lésbicas nascidas nos Açores. Essas filhas da puta é que são uma raça a abater! Se vires algum filme sobre americanos nascidos nos Açores que são mais pró-americanos que o Bush, envia-me uma cópia.
Um abraço,
Zeca

Caro Zeca,

Antes de mais nada cabe aqui um enorme pedido de desculpas por não te escrever desde o Natal! Mas tu compreendes, não é? A azáfama das prendas, a lufa-lufa na cozinha, o bacalhau mal demolhado, uma série de cuis-pró-cuós que não me deixaram tempo nem espírito para missivas.
Desculpas apresentadas vamos ao que interessa.
Muita água passou debaixo da ponte desde que te escrevi. Suponho que, do teu lado, e a esta hora, já acabaste mais duas vezes com a Clara e deves já ter testado a Maria, a tal dos 24 aninhos que parece choca mas é bonita.
Eu aqui não tenho muito para contar. A não ser que tenho andado adoentado. Como aquelas velhotas que se queixam sempre que cruzam alguém da mesma idade. Não tenho nada de sérioe - que eu sabia - te esconjuro - Deus me livre - mas tenho sofrido de várias maleitas desagradáveis que me impedem de me concentrar noutras coisas... incluindo escrever-te.
Talvez devido a este meu estranho estado acabei por acabar com a minha amante. A miúda andava a chatear-me porque nos víamos pouco e eu decidi que era melhor não nos vermos mais. Ainda por cima, já abri o livro todo e já nada me surpreendia com ela. Era hora de parar. Por outro lado, andava a sentir-me culpado, o que significa que o prazer já não se sobrepunha à canseira de inventar desculpas em casa. Por isso decidi não responder a um SMS que ela mandou em véspera de dia dos Namorados. perguntava se eu estava no Luxemburgo. Eu disse que estava na Grécia. E ela disse: "se calhar não nos vemos esta semana, para variar...". Eu não respondi na altura e estou muito orgulhoso de mim, apesar de ontem lhe ter mandado um postal a dizer que estava zangado com ela... Fraquezas...
Entretanto, ando atarefado a organizar um festival de cinema. Sim, com filmes dos países de Leste; perdão, filmes da Europa Central, como eles preferem dizer. Para resolver o diferendo o festival vai chamar-se New Europe Film Festival. Um conceito geopolítico que os anti-Bush acham americano mas que vai ficar na História tal como ficou a cortina de ferro e outros que tais.
Mandei-te um DVD do Lost in Translation. Queria ver se tu te identificavas. Quando vi o filme pensei em ti o tempo todo e nas coisas que tu dizias dos japonas. Espero que gostes.
Um abraço e... e prontos!
Ruca

29 de dezembro de 2004

Caro Ruca,

Pronto, acabou-se tudo! O moribundo morreu! Eu e a Clara acabamos tudo! Ela estava cada vez mais preocupada com a hipótese de alguém descobrir e assim dava-me cada vez menos. Eu já estava farto de estar à espera que lhe passasse o medo e assim vai cada um para seu lado. Descobri que afinal não vou morrer sem ela, mas é verdade que me está já a fazer uma falta dos diabos. Ela queria que ficassemos amigos mas eu disse-lhe que amigos tenho eu com fartura e que podia meter a amizade num sítio que tu sabes qual é! Amigas é bom, mas para conversa já eu tenho, não preciso de mais. Assim pode ser que ela sinta tantas saudades minhas que um dia destes venha aí por-se de joelhos á minha frente a pedir para eu voltar! (Como vês, estou completamente curado e também sou um grande mentiroso!).
A verdade é que, com estas e com outras, há mais de 1 mês que já não vejo o padeiro (ou será a padaria?). A minha mulher anda muito satisfeita porque, graças ao meu estado de espírito actual, não a tenho chateado e eu até me estou a habituar. Pode ser que deixe de a chatear de vez!
Dei por mim a visitar sites de putas! E fiquei agradavelmente surpreendido com a qualidade. Há que reconhecer que a invasão de brasileiras aumentou muito a qualidade da oferta nestes serviços. Fiquei curioso!
Na próxima falo-te da Maria. É uma menina de 24 anos, que me parece mais choca que a Clara mas até é mais bonita. Trabalha numa empresa com quem eu trabalho e anda a dar-me muito troco! E não tem namorado!
Um grande abraço e tudo de bom para ti em 2005.
Zeca

28 de novembro de 2004

Caro Zeca,

Não, não me tornei rabeta! E também não te vou convencer a mudar os teus gosots que estás muito bem assim.
Espantas-me tu duvidares das minhas tendências. Nós que passeávamos de mão dada quando íamos para a cantina universitária, nós que nos acariciávamos ternamente no Piano's depois de almoço, nós que experimentamos essas pequenas amostras do prazer homossexual que nos deixram convictos de que a nossa via era outra.
Espanta-me por isso que penses que eu podia mudar de gostos. Não mudei e quase que posso dizer que desta água não beberei graças a algumas situações recentes que me permitiram ter a certeza de que não gosto de caralhos.
Aqui fica a resposta e a confirmação que, espero, te deixe mais descansado. Com esta conversa perdi a vontade de te falar da puta polaca que faz os melhores broches a Leste do Oder.
Fica prá próxima,

PS - Os beijos entre amigos são uma velha brincadeira entre mim e uns amigos daqui. Um dia, não sei porquê, alguém disse: "beijinhos no sítio do costume", e a moda pegou mesmo entre os homens de barba mais rija. Mas, clarifico, ninguém dá beijinhos a ninguém, apesar de essa moda estar cada vez mais implantada por estas paragens...

Teu Ruca