9 de março de 2005

Caro Zeca,

Antes de mais nada cabe aqui um enorme pedido de desculpas por não te escrever desde o Natal! Mas tu compreendes, não é? A azáfama das prendas, a lufa-lufa na cozinha, o bacalhau mal demolhado, uma série de cuis-pró-cuós que não me deixaram tempo nem espírito para missivas.
Desculpas apresentadas vamos ao que interessa.
Muita água passou debaixo da ponte desde que te escrevi. Suponho que, do teu lado, e a esta hora, já acabaste mais duas vezes com a Clara e deves já ter testado a Maria, a tal dos 24 aninhos que parece choca mas é bonita.
Eu aqui não tenho muito para contar. A não ser que tenho andado adoentado. Como aquelas velhotas que se queixam sempre que cruzam alguém da mesma idade. Não tenho nada de sérioe - que eu sabia - te esconjuro - Deus me livre - mas tenho sofrido de várias maleitas desagradáveis que me impedem de me concentrar noutras coisas... incluindo escrever-te.
Talvez devido a este meu estranho estado acabei por acabar com a minha amante. A miúda andava a chatear-me porque nos víamos pouco e eu decidi que era melhor não nos vermos mais. Ainda por cima, já abri o livro todo e já nada me surpreendia com ela. Era hora de parar. Por outro lado, andava a sentir-me culpado, o que significa que o prazer já não se sobrepunha à canseira de inventar desculpas em casa. Por isso decidi não responder a um SMS que ela mandou em véspera de dia dos Namorados. perguntava se eu estava no Luxemburgo. Eu disse que estava na Grécia. E ela disse: "se calhar não nos vemos esta semana, para variar...". Eu não respondi na altura e estou muito orgulhoso de mim, apesar de ontem lhe ter mandado um postal a dizer que estava zangado com ela... Fraquezas...
Entretanto, ando atarefado a organizar um festival de cinema. Sim, com filmes dos países de Leste; perdão, filmes da Europa Central, como eles preferem dizer. Para resolver o diferendo o festival vai chamar-se New Europe Film Festival. Um conceito geopolítico que os anti-Bush acham americano mas que vai ficar na História tal como ficou a cortina de ferro e outros que tais.
Mandei-te um DVD do Lost in Translation. Queria ver se tu te identificavas. Quando vi o filme pensei em ti o tempo todo e nas coisas que tu dizias dos japonas. Espero que gostes.
Um abraço e... e prontos!
Ruca

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