13 de novembro de 2003

Viagem à Tailândia - Part 2

O Silvino esqueceu-se de mim. Passou mais de um mês sem que ele me contactasse. Eu facilmente me esqueci dele. Falei com a Sónia sobre o que poderia ele fazer na vida. Especulámos mas nenhuma das nossas apostas nos satisfez. Como era possível que alguém pusesse fortunas nas mãos daquele tipo para atravessar fronteiras?!
O Silvino tem ar de amanuense, diria o meu amigo Carlos, mas para mim a comparação ideal faz-se com o Bolhãozinho. Bem sei que a maioria dos meus leitores não sabem quem é o Bolhãozinho, mas eu explico. O Bolhãozinho chama-se Filipe, se não me engano. O senhor Filipe tinha uma velha mercearia mesmo no centro de Felgueiras, junto ao tristemente famoso edifício da Câmara Municipal. Eu só soube que o Bolhãozinho se chamava Filipe porque andei com o filho dele no liceu e ele um dia disse que se chamava Filipe como o pai, numa tentativa atabalhoada de nos convencer a chamá-lo pelo nome e não Bolhãozinho. Mas quem se parece com o Silvino não é o Bolhãozinho junior mas o pai, aquele que sempre conheci atrás de um balcão de madeira, anormalmente baixo, numa mercearia que parecia nunca ter visto a luz nem do sol nem de artifícios tais que lâmpadas. Pior, o Bolhãozinho (porque toda a gente chamava indiferentemente Bolhãozinho à loja ou ao proprietário) ficava virado a noroeste, o que deixava de parte toda e qualquer possibilidade de o sol entrar na loja, tal como nunca entrou no café Belém nem na ourivesaria do Barros, que foi a primeira a ter vidros antibala. Por acaso, um dia, um camião sobrecarregado de troncos de pinheiros passava mesmo em frente à ourivesaria do Barros, que também se chamava ourivesaria Barros, e devido à inclinação do piso deixou cair metade da carga contra as montras repletas de ouro e relógios de marca. Não sobrou um só vidro antibala. O que levou metade dos mangas do meu liceu a escrever nas novas montras, debaixo da placa dourada que anunciava "vidro à prova de bala": "...e à prova de pinheiros?".

Sem comentários: